O Espírito do Treinamento em Artes Marciais

Historicamente a China foi fundada com base no espírito das artes marciais. A admiração ao estudo de artes marciais sempre fez parte da vida e da cultura do povo chinês. Quando eu era novo, meu mestre Moy Yat dizia frequentemente “Livros são para as pessoas pobres estudarem, pessoas ricas estudam através de um Sifu as artes marciais” Nasci em Hong Kong, numa família pobre nos anos 50. Mas fui aprender artes marciais como se tivesse nascido rico. Tive a sorte de ter o ensino do mestre Moy Yat na arte marcial Wing Chun, o qual prezo e tenho estudado com muito respeito em toda minha vida e do qual, se não alcançar a perfeição, chegarei próximo dela. Infelizmente a partir da dinastia Son as artes marciais foram desprezadas. A preferência às ciências   humanas ao invés das artes marciais permanece até o dia de hoje. Atualmente os considerados artistas marciais ricos são apenas empreendedores bem sucedidos. São poucos os que conseguem ser “os bons que usam a fortuna para enriquecer o corpo,” e não “os que usam o corpo para fazer a fortuna.”

A arte marcial no ocidente é usada para reprimir pessoas. O imperialismo e os imperadores usavam seus exércitos para demostrar sua força aos outros e não para seu fortalecimento próprio, o que é muito diferente do espírito de artes marciais na China. A razão pela qual os chineses treinam artes marciais é para parar mais os combates. É um espírito de respeito e prática para aprender como solucionar os problemas.

Na minha juventude eu presenciei a confiança e o respeito que as pessoas amigas da vizinhança tinham em relação ao mestre Moy. Também pude ver o mais alto respeito dele para com seu mestre Yip Man. São minhas memórias inesquecíveis que ficam gravadas na minha cabeça. “A adoração à artes marciais” não é usar a força para dominar outros mas sim usar o caráter para conquistar admiração pessoas. É um relacionamento de respeito entre os seres humanos.

Este é o verdadeiro caráter de artes marciais chinesas, também é o motivo pelo qual eu dedico minha vida no ensino das artes marciais. Da minha história dos 40 anos lecionando no Canadá, seguindo a filosofia de harmonia interpessoal, posso dizer para meu mestre com profunda gratidão, que eu consegui honrar seu ensinamento: “respeitar os outros e, por tanto, ser respeitado.”

Na realidade, o espírito de artes marciais deve ser divididos em 2 níveis, o patriótico e o individual. O primeiro refere-se as instalações militares e o segundo é a formação espiritual através da prática. Essa definição não se limita aos discípulos de Wing Chun. Atualmente falta para muitos dos novos praticantes de artes marciais a virtude de humildade e generosidade. Perderam seu ímpeto de defender os princípios, e mal têm força para buscar o verdadeiro espírito. Por isso, eu criei 6 caminhos para ensinar os aprendizes, que são lutar, sentir, exercitar, alimentar, viver e usar. São os caminhos para atingir a felicidade de ter a paz divina e a saúde. Saber distinguir o certo do errado, defender a verdade, procurar a justiça nas suas buscas de matéria e conhecimento. “Viver sem sentir, ver sem enxergar, ouvir sem escutar e comer sem saborear” são os grandes erros para os praticantes de artes marciais.

No Canadá eu vivenciei o respeito e o aperfeiçoamento que a sociedade ocidental tem em relação ao sistema social. Isso é apenas uma renovação organizacional. Se não for por dinheiro, não há tal motivação. Em oposição, temos a criação de Deus. É só ver quão maravilhoso o sistema do corpo humano é, tal qual um templo de Deus, cheio de energia, glória, pureza e resiliência. Para muitos casos que não tem resposta na medicina, apenas precisa seguir com afinco a doutrina de ser “justo e correto” que conseguirá ser beneficiado pela alegria divina. O espírito puro das artes marciais pode elevar nossa alma e caráter. Essas é minha compreensão pessoal do espírito das artes marciais, e assim é o meu ensinamento e do meu mestre para todos: “Coração justo, punho correto. Alma elevada, caráter transcendente.”

Muitos alunos do Wing Chun estudam técnicas de luta, acreditam em “bater até matar” e esqueceram que Kung Fu é “a vida”, e não “a morte.” Não é jogo de “ou matar ou morrer” mas sim de Moy Yat e Nelson Chanressaltar a grandeza da vida.

Resumindo, na repressão do exército terá fugitivos, das almas dos heróis nasce o verdadeiro espírito. O espírito de artes marciais é nobre como o espírito que nasce das almas dos mártires. “Cuida do seu corpo que ele seguirá seu comando.” Isso é a cultura de vida na China e a experiência de 1.700.000 dias do ser humano.

Queridas pessoas, desejo a vocês que tudo lhes flua bem, muita saúde e muita paz na alma.

Sifu Nelson Chan
Canadian Wing Chun Fellowship
Tradução: Chen Hui Li

Julho, ano de Cobra

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